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Sobre “A demanda por deuses”

A leitura de “A demanda por deuses”, de Paulo Gracino Junior, pode levar a várias abstrações, pois é um livro que fala muito de cultura e de religião, temas entranhados no cotidiano de todo brasileiro, mesmo daquele que não desfruta de crença alguma. Gostando ou não, a religião está em todo lugar.

Já que o livro refere-se a igrejas pentecostais, basta observar o que se convencionou chamar de TV Aberta. Muitos dos horários noturnos estão ocupados por pastores e seus discípulos. Às vezes por programas de auditório, outras ocasiões por apresentações e leituras em estúdio. A impressão mais recorrente é que as novas igrejas evangélicas desenvolvem-se por todo o Brasil, em um movimento homogêneo, sem sobressaltos, encontrando um manancial de seguidores em qualquer área.

Contudo, não é bem assim. Algumas regiões parecem estar mais receptivas à expansão de igrejas neopentecostais, do que outras, que mostram-se mais refratárias.

Então quais seriam as características de determinada localidade que facilitariam o acolhimento? Seriam estes fatores de cunho cultural, social, histórico, ou relativos à faixa etária da população?

Em “A demanda dos deuses”, pesquisa no âmbito da sociologia das religiões, Paulo Gracino Junior elucida algumas dessas questões. Em sua investigação, o autor observa como algumas conformações culturais mostram-se mais resistentes à ação evangelizadora e limitam o crescimento das igrejas pentecostais. Para chegar a conclusões,  ele parte de experiências no Brasil e em Portugal, e conjuga as relações societais como a principal variável para a demanda por uma religião.

Segundo os dados de “A Demanda por deuses”, tanto Minas Gerais quanto o Nordeste Brasileiro e o Norte de Portugal são espaços de um catolicismo  popular que resiste à investida pentecostal.M Minas Gerais e o Norte de Portugal são destaques no livro de Gracino.

Ao falar do norte de Portugal, o autor observa que “a oposição aos grupos protestantes pentecostais, em especial à Igreja Universal do Reino de Deus(IURD), no Norte, é tanto fruto da resistência cultural de uma população que imiscui várias esferas de sua vida ao catolicismo quanto desta classe média urbana intelectualizada, europeísta e laica”. Um dos episódios analisados foi a venda malograda da sala de espetáculos Coliseu do Porto à IURD, na década de 90. A tentativa de compra deflagrou o movimento “Todos pelo Coliseu”, configurando uma expressão de identidade coletiva que terminou por impedir que fosse selado o negócio.

Na realidade, a interação entre fluxo religioso e culturas locais não se trata de um fato novo, mas um fenômeno cujo momento mais contundente apresenta-se na trajetória do catolicismo, que promoveu um dos primeiros processos de padronização de costumes e crenças, não sem antes travar um combate árduo com seus opositores.

O mérito da obra de Paulo Gracino Junior está em ajudar na compreensão dos ingredientes individuais e sociais que moldam o desenvolvimento da religiosidade na sociedade contemporânea. Para isso, o autor não ignora que trata-se de um painel em movimento, e, com isso, poupa o leitor de respostas prontas ou simplicações comuns a tema atuais.

Capa Demanda